terça-feira, 4 de agosto de 2015

Naquela mesa

Ontem eu fui jantar na casa do Ribamar, disse a ele, que estava mal faltá uma semana para o dia dos pais, e eu estou em desespero, Ribamar como bom amigo, já se prontificou a me ajudar, convidando para ir ao almoço na casa dele, disse que não, não sei o que vou fazer, mas sei que irei levar flores para ele no cemitério, Ribamar não aprovou muito, essa ideia, bebi um pouco de vodka que tinha na casa dele, fui para casa, queria pensar um pouco.
Pronto irei fazer uma narrativa não linear de como era o dia dos pais.
Dia dos pais é sempre o segundo domingo do mês de agosto, meu pai na primeira semana de julho já se preparava todo, já perguntava quem iria subir pro sitio dele, e já convidava todos ( Uma pena, a distancia invisibilizava muitos de irem) meu telefone já tocava quase todos os dias as 6 da manhã, como o meu pai dizendo que já tinha ido ao mercado comprado carnes, pro churrasco, e os ingredientes para fazer o mocotó, festa, batizado, natal, domingo, dia qualquer, meu pai fazia sempre as mesmas coisas, mocotó e churrasco, já falava que comprou algumas peças de carnes, e que estava tudo guardado no freezer da cumadre, mandava avisar a minha mãe e a minha irmã Daniele que comprou a cerveja, isso antes de chegar o fim do mês de julho, na primeira semana de agosto em uma segunda que eu estava tentando acordar de um dia de ressaca, ele me ligava, era pior se o Flamengo perdesse e o vasco ganhasse, ele dava uma risada e perguntava o placar do jogo, só para zombar de mim, no decorrer da conversar ele, desmarcava dizia que não iria fazer mais nada, que iria para casa de algum amigo dele, ( Meu pai, nunca foi de ficar em casa de amigos, e odiava que as pessoas ficassem na casa dele, mas que o tempo comum de uma visita) não demorava muito, ou ligava para o meu celular ou para o meu trabalho, já dizia que iria fazer o churrasco, não discutia apenas se entusiasmava mais com a ideia, e logo pedia para chamar os sobrinhos dele, e isso se repetia a semana toda, marcando e desmarcando, na sexta pedia para minha mãe procurar o Jura, o cara que fazia alguns fretes de carro para ele, meu pai pedia para o Jura ir buscar tudo na casa dele, que ele iria mandar as coisas para minha casa, chegava do trabalho na sexta, lá estava meu pai, reclamando que o meu fogão era muito baixo o fogo, que só iria terminar de fazer o mocotó no natal, mas ele sempre sorria, quando eu dizia que iria comprar um fogão novo, eu dizia: Pai, jogo as cascas em local só, não joga no quintal, ele fazia questão de jogar, o som bem alto, era a nossa marca e o ouvir Bezerra da Silva, era o nosso elo, era o que nos unia, abria a geladeira, tinha ao menos 3 cervejas gelando, bem silenciosamente, pegava uma cerva, sentava na varanda e com um copo de plastico colorido, bebia aquela cerva ao lado do meu pai, eu tinha vergonha de beber do lado dele questão de respeito e assim era a nossa sexta.
No sábado quase tudo pronto, lá estava meu pai, servindo alguns vizinhos com o mocotó.
No domingo as 7 da manhã já estava meu pai, arrumando a mesa, para o churrasco que só começaria as 11 da manhã, até o churrasco ficar assado, meu vizinho Cenir de frente, já tomou 3 porres, meu pai não bebia, mas comprova sempre uma bebida para servir os amigos, e o bom de tudo, meu pai sofreu com o alcoolismo e não usava a demagogia de não ficar perto ou comprar para as outras pessoas.
E as 12hs em ponto quando a primeira leva de churrasco ficou pronta, já tinha escutado 356 musicas do Bezerra da Silva, 125 do fundo de quintal e outras 25 do Zeca, 152 do Jorge Aragão, quando começava tocar a Elza Soares ficava no portão não gosto das musicas dela.
Até o churrasco ficar de boa, meu pai tinha mandando as crianças sair da cozinha 38 vezes, já tinha dado 25 pedaços de carne cruas para os outros, e tinha dado centenas de beijos e abraços na minha sobrinha mais velha e na sobrinha mais nova ele já tinha perguntando 15 vezes se ela queria virar cachorro e sem contar os 500 esporro por deixar a carne queimar, por e meu pai me chamar de enjoado e velho que reclama de tudo, eu sempre dizia,  Pai o senhor é que é, e olhava e perguntava eu? No final do dia, eu tentava dar um beijo no rosto dele, e por 3 vezes ele não deixava na quarta ele deixava.
Vai ser o primeiro dia dos pais, que não vivenciarei isso, não sei o que farei, acho que vou colocar todas milhares de musicas do Bezerra pra ouvir e vou encher a cara, dessa vez irei beber no dia dos pais e não terei para quem ficar com vergonha de que eu estou tomando cerveja.
A saudade é muito grande, saudades do meu amigo, meu pai.






Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã

Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim

Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim

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