Pronto irei fazer uma narrativa não linear de como era o dia dos pais.
Dia dos pais é sempre o segundo domingo do mês de agosto, meu pai na primeira semana de julho já se preparava todo, já perguntava quem iria subir pro sitio dele, e já convidava todos ( Uma pena, a distancia invisibilizava muitos de irem) meu telefone já tocava quase todos os dias as 6 da manhã, como o meu pai dizendo que já tinha ido ao mercado comprado carnes, pro churrasco, e os ingredientes para fazer o mocotó, festa, batizado, natal, domingo, dia qualquer, meu pai fazia sempre as mesmas coisas, mocotó e churrasco, já falava que comprou algumas peças de carnes, e que estava tudo guardado no freezer da cumadre, mandava avisar a minha mãe e a minha irmã Daniele que comprou a cerveja, isso antes de chegar o fim do mês de julho, na primeira semana de agosto em uma segunda que eu estava tentando acordar de um dia de ressaca, ele me ligava, era pior se o Flamengo perdesse e o vasco ganhasse, ele dava uma risada e perguntava o placar do jogo, só para zombar de mim, no decorrer da conversar ele, desmarcava dizia que não iria fazer mais nada, que iria para casa de algum amigo dele, ( Meu pai, nunca foi de ficar em casa de amigos, e odiava que as pessoas ficassem na casa dele, mas que o tempo comum de uma visita) não demorava muito, ou ligava para o meu celular ou para o meu trabalho, já dizia que iria fazer o churrasco, não discutia apenas se entusiasmava mais com a ideia, e logo pedia para chamar os sobrinhos dele, e isso se repetia a semana toda, marcando e desmarcando, na sexta pedia para minha mãe procurar o Jura, o cara que fazia alguns fretes de carro para ele, meu pai pedia para o Jura ir buscar tudo na casa dele, que ele iria mandar as coisas para minha casa, chegava do trabalho na sexta, lá estava meu pai, reclamando que o meu fogão era muito baixo o fogo, que só iria terminar de fazer o mocotó no natal, mas ele sempre sorria, quando eu dizia que iria comprar um fogão novo, eu dizia: Pai, jogo as cascas em local só, não joga no quintal, ele fazia questão de jogar, o som bem alto, era a nossa marca e o ouvir Bezerra da Silva, era o nosso elo, era o que nos unia, abria a geladeira, tinha ao menos 3 cervejas gelando, bem silenciosamente, pegava uma cerva, sentava na varanda e com um copo de plastico colorido, bebia aquela cerva ao lado do meu pai, eu tinha vergonha de beber do lado dele questão de respeito e assim era a nossa sexta.
No sábado quase tudo pronto, lá estava meu pai, servindo alguns vizinhos com o mocotó.
No domingo as 7 da manhã já estava meu pai, arrumando a mesa, para o churrasco que só começaria as 11 da manhã, até o churrasco ficar assado, meu vizinho Cenir de frente, já tomou 3 porres, meu pai não bebia, mas comprova sempre uma bebida para servir os amigos, e o bom de tudo, meu pai sofreu com o alcoolismo e não usava a demagogia de não ficar perto ou comprar para as outras pessoas.
E as 12hs em ponto quando a primeira leva de churrasco ficou pronta, já tinha escutado 356 musicas do Bezerra da Silva, 125 do fundo de quintal e outras 25 do Zeca, 152 do Jorge Aragão, quando começava tocar a Elza Soares ficava no portão não gosto das musicas dela.
Até o churrasco ficar de boa, meu pai tinha mandando as crianças sair da cozinha 38 vezes, já tinha dado 25 pedaços de carne cruas para os outros, e tinha dado centenas de beijos e abraços na minha sobrinha mais velha e na sobrinha mais nova ele já tinha perguntando 15 vezes se ela queria virar cachorro e sem contar os 500 esporro por deixar a carne queimar, por e meu pai me chamar de enjoado e velho que reclama de tudo, eu sempre dizia, Pai o senhor é que é, e olhava e perguntava eu? No final do dia, eu tentava dar um beijo no rosto dele, e por 3 vezes ele não deixava na quarta ele deixava.
Vai ser o primeiro dia dos pais, que não vivenciarei isso, não sei o que farei, acho que vou colocar todas milhares de musicas do Bezerra pra ouvir e vou encher a cara, dessa vez irei beber no dia dos pais e não terei para quem ficar com vergonha de que eu estou tomando cerveja.
A saudade é muito grande, saudades do meu amigo, meu pai.
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho
Que mais que seu filho
Eu fiquei seu fã
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa num canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida
Essa dor tão doída não doía assim
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala do seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim
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